sexta-feira, 15 de abril de 2011

Parte I

Vontade:
-Tenho vontade de fugir, ir pra bem longe, me perder e nunca mais achar  o caminho de volta...

Caminho:
-Então fuja... e tente lembrar cada passo que deu, infelizmente o ser humano só tem o dom de esquecer o que ele não quer.       

                                            

Anos depois...

Acordei um dia e não lembrava quem eu era, não tinha documentos nem ninguém que pudesse me lembrar, qual foi a primeira atitude? fui descobrir quem eu sou.

Ontem, andando na rua encontrei um relógio, a pulseira de couro gastado, o metal riscado e o vidro quebrado me fez fazer uma estúpida comparação com a minha situação, as horas marcavam 15:47, o segundos giravam mais o tempo não passava.

Um pouco mais a frente um mendigo pedia esmolas na calçada, abaixei e entreguei o relógio a ele:

- Porque você insiste que eu fique com esse relógio? tentei de todas as formas destrui-lo, me sentia parado no tempo vendo segundo por segundo nunca virar um minuto...

- Minha memória está tão confusa quanto esse relógio, não consigo lembrar de nada.

Ele então respondeu sem olhar:

- Agora você lembra que perturbou um velho com uma droga de relógio quebrado, eu não preciso ver os ponteiros para saber que horas são, mais precisei ver os dias passar ver a vida que perdi...

...Eu costumava ficar na estação de trem, só pra ver o trem passar, uma vez passou um sujeito com uma placa escrito: vendo sonhos... ele correu pra entrar em um vagão quando caiu uma moeda e veio rolando até o meu pé, a moeda parecia não ter valor e ainda tinha um furo bem no meio.

-Esqueça o passado, pegue essa moeda e procure o vendedor de sonhos, ela deve ter algum valor, ele a procura até hoje, eu ia troca-la por um sonho, olhando pra você eu percebo que é melhor sonhar quando não se lembra de nada.

 Caminhei até a estação de trem e lá estava um senhor com a barba branca, segurando a tal placa, pelo estado dele parecia que os negócios não estavam bem, me sentei no banco ele me olhou e veio em minha direção.

- Poderia me informar que horas são?

Olhei o relógio e falei:

- 15:47.

- Engraçado o tempo é realmente relativo, tenho impressão de que agora são 18:00, tudo bem não tem muita importância mesmo, eu não queria saber que horas são, vim até aqui para saber se deseja comprar um sonho.

- Quem precisaria comprar um sonho?

- Você tem algum?

- Não, respondi com cara de tinha entendido aquela situação, na verdade não tenho sonhos nem memórias.

-Ótimo, posso te vender meu melhor sonho então.

Tudo bem, eu ia te devolver isso por nada, aquele mendigo pode ter razão, entreguei a moeda furada para o senhor.

- Sou filho único de meus falecidos e ricos pais, sempre tive de tudo, menos sonhos na vida, só queria que meus pais falecessem e a herança ficasse pra mim, era tudo que eu queria, quando isso aconteceu essa moeda foi tudo que restou pra mim, e hoje eu vendo sonhos para sobreviver.

- Isso te faz feliz?

- Como nunca fui na minha vida...a felicidade é uma imagem distorcida, é muito difícil de ver como ela é de verdade.

-Assim como os sonhos?

- O sonho na verdade é o caminho entre a vontade e a conquista, as pessoas só enxergam a conquista, as vezes acham que sonharam longe de mais quando desistem sem caminhar o bastante, e quando realizam um sonho nem percebem o quanto foi importante a caminhada até o objetivo, qual é sua vontade agora?

- Não sei, achei que seria lembrar quem eu era, no entanto está sendo mais importante tentar lembrar do que lembrar.

- Entre no próximo trem, não se sente na janela, nem fale com ninguém até você descobrir um sonho, quando descobrir venha até aqui que eu direi o caminho.

- E se eu não descobrir nenhum sonho?

- Entre no trem novamente, você vai ver muitos outdoors e propragandas...

O trem parou, o vagão estava com poucas pessoas, entrei e me sentei na janela, olhei para o velho, enquanto o trem partiu.

Não tinha nada pra ver, a paisagem de nada não me lembrava nada, nenhum sonho veio a mente, sai da janela, comecei a refletir sobre os  acontecimentos do dia, quando percebi o vagão estava quase cheio, ele parou em uma estação, a porta se abriu, algumas pessoas saíram, outras entravam, isso aconteceu por horas agora eu era o ponteiro que não se movia...

Olhando pessoas de diversas raças, de várias cores, comecei a analisar as mulheres que por ali passavam, tudo era diferente mais percebi que umas me agradavam mais e outras nem tanto, foi ai que tive minha primeira lembrança.

Olhos puxados eram mais bonitos, cabelos pretos brilhavam mais, estatura baixas eram mais delicadas, o olhar despercebido é o que chamava mais atenção, parecia que quando menos atraente queria ser mais acabava sendo, no entando essa descrição era da garota que se sentou ao meu lado.

Ela escrevia em um diário, sem perceber comecei a ler o que ela estava escrevendo, era sobre um amor não correspondido, as palavras expressavam o seu olhar triste, ela se levantou e caminhou até a porta, meu olhar acompanhou seu caminho, olhou pra trás e por um instantante pode olhar em seus olhos, me fez lembrar de uma coisa ou outra, não sei acho que nem lembro o que lembrei.

Voltei a estação do vendedor de sonhos, ele não estava mais lá.

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